Livro: A menina que roubava livros
Autor: Marcus Susak
Editora: Instrínseca
Preço: R$ 22,41 (Lojas Americanas)
Classificação: Murro no crânio
Sinopse
Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em “A Menina que Roubava Livros”, livro há mais de um ano na lista dos mais vendidos do “The New York Times”.
Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade desenxabida próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido da sua existência. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona de casa rabugenta. Ao entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, “O Manual do Coveiro”. Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair na neve. Foi o primeiro de vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes. E foram estes livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de roubá-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam mais tarde aplicadas ao contexto a sua própria vida, sempre com a assistência de Hans, acordeonista amador e amável, e Max Vanderburg, o judeu do porão, o amigo quase invisível de quem ela prometera jamais falar.
Há outros personagens fundamentais na história de Liesel, como Rudy Steiner, seu melhor amigo e o namorado que ela nunca teve, ou a mulher do prefeito, sua melhor amiga que ela demorou a perceber como tal. Mas só quem está ao seu lado sempre e testemunha a dor e a poesia da época em que Liesel Meminger teve sua vida salva diariamente pelas palavras, é a nossa narradora. Um dia todos irão conhece-la. Mas ter a sua história contada por ela é para poucos. Tem que valer a pena.
Resenha:
Encantador. Essa palavra define com precisão o aludido livro. Esperei até um tempo depois de ler para escrever sobre ele porque ao fim, num rio de lágrimas (sim, os mais emotivos derramarão algumas), talvez fosse influenciada pelas emoções e não conseguiria descrevê-lo da melhor forma.
A menina que roubava livros, Liezel, me conquistou na primeira página, não conseguia parar de ler. Geralmente tenho grande interesse por narrativas relacionadas à Segunda Guerra Mundial, mas esta tem um diferencial. A guerra é demonstrada pela perspectiva dos alemães à margem do regime de Hitler, aqueles que sofreram com a guerra e até mesmo aqueles relutantes às ideias do Führer.
O mais inusitado da história, sob minha ótica, é a narradora. A morte. Tenho uma queda por livros assim, desde o meu primeiro deslumbramento com “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (neste o personagem narrador já havia passado desta para a melhor) e toda vez que a morte caminha entre os personagens de forma simples, natural, despretensiosa, me encanto pela história (por mais mórbido que isso possa parecer). E a morte no livro de Marcus Susak é ímpar: de tudo sabe, conhece bem os seres humanos e do que eles são capazes. Em alguns momentos, antecipa no decorrer da narrativa o fim de alguns personagens (o que, me parece, desagradou alguns, mas para mim é brilhante e dinâmico). É irônica e trágica. Isso é sensacional!
O livro me fez sorrir, chorar, me encantar com os personagens, com destaque para o menino Rudy, único, cada gesto desta criança é um ensinamento para a vida. A doce Liezel me fez lembrar do meu amor pela leitura desde criança e da mágica de ouvir um contador de histórias. Seus pais adotivos nos mostram o sofrimento dos alemães comuns em meio à guerra. Vislumbramos a tragédia dos judeus, as desigualdades sociais, a fome, tudo misturado às brincadeiras da protagonista com outras crianças e à mágica da leitura. Sensacional. Este livro deve integrar aquela lista dos que deveríamos ler antes de encontramos com a morte. E ela ali está para nos mostrar que isso vai acontecer, mais cedo ou mais tarde.
Um trecho bem do início do livro para dar o gostinho da narrativa…
“EIS UM PEQUENO FATO
Você vai morrer.
Com absoluta sinceridade, tento ser otimista a respeito de todo esse assunto, embora a maioria das pessoas sinta-se impedida de acreditar em mim, sejam quais forem meus protestos. Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo.
(…)
Eu poderia me apresentar apropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, eu me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível. Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora gentilmente.”
Sensacional, não??
Em janeiro teremos a reprodução desta maravilha nas telonas, espero que não seja banalizada e que me emocione como as páginas do livro.
Esmurrem seus crânios, leiam “A Menina que roubava livros”!