Liberdade de Jonathan Frazen

Publicado: 23 de janeiro de 2014 em Resenhas livros
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Livro:  Liberdade

Autor: Jonathan Franzen

Editora: Companhia das Letras

Preço: R$29,90 (Edição Econômica, Livraria Cultura)

Classificação : Murro no crânio

Sinopse e comentários (extraídos do site da editora):

Liberdade, quarto romance do norte-americano Jonathan Franzen, foi um dos mais festejados lançamentos literários de 2010. Publicado nove anos após As correções (vencedor do National Book Award), o livro foi saudado como um painel amplo e profundo da sociedade americana contemporânea e um triunfo da prosa refinada que já fazia a fama do autor.

A história de Liberdade gira ao redor de um trio de protagonistas. Walter e Patty Berglund formam, junto com os filhos adolescentes Joey e Jessica, uma típica família norte-americana liberal de classe média. Richard Katz é um roqueiro descolado que tenta fugir da fama que tanto buscava no passado. Os três se conhecem no final dos anos 1970, na Universidade de Minnesota, e a partir daí suas vidas se entrelaçam numa complexa relação de amizade, paixão, lealdade e traições que culminará com uma série de conflitos decisivos na primeira década do novo milênio, época em que o conceito de liberdade parece tão onipresente quanto fugidio.

Como em As correções, Franzen mergulha numa tragédia familiar para dissecar, com incrível detalhe e personagens tão reconhecíveis quanto surpreendentes, a psique e os sonhos da classe média norte-americana, explorando temas como o choque entre as políticas liberais e conservadoras no contexto social e privado, os males da superpopulação e das ameaças ecológicas, a crise do politicamente correto e os dilemas afetivos de uma geração cada vez mais conectada, individualista e globalizada.
Aclamado pela crítica, Liberdade também foi um fenômeno de mídia. A apresentadora Oprah Winfrey o selecionou para o seu popular círculo do livro, o Oprah’s Book Club, e a revista Time estampou sua capa com o romance, algo que não acontecia desde o ano 2000, quando Stephen King figurou no mesmo espaço.

“O romance mais comovente de Franzen – um livro que se revela ao mesmo tempo uma envolvente biografia de uma família problemática e um retrato incisivo do nosso tempo.” – Michiko Kakutani, The New York Times

“Não é à toa que Liberdade menciona Guerra e Paz em todas as letras. Ele pede espaço na prateleira ao lado do tipo de livro que as grandes feras escreviam. Livros que eram chamados de importantes. Que eram chamados de os grandes.” – Benjamin Alsup, Esquire

“O livro do ano, e do século.” – The Guardian

“Assim como As correções, Liberdade é uma obra-prima da ficção americana. Liberdade é um livro ainda mais rico e profundo – menos reluzente na superfície, porém mais seguro em seu método. Como todos os grandes romances, Liberdade não conta apenas uma história cativante. Ele ilumina, pela profunda inteligência moral do autor, um mundo que julgávamos conhecer.” – Sam Tanenhaus, The New York Times Book Review

Resenha

Este livro é comovente. Conforme conta-nos a sinopse, a história gira em torno de três personagens principais: Patty, Walter e Richard, amigos na juventude e com destinos entrelaçados por toda a vida. Tais personagens se conheceram ainda jovens, existiu uma forte relação afetiva entre Patty e os amigos Richard e Walter, mas ela se casa com o último. A partir daí o autor nos conta suas histórias, a relação entre o casal e destes com Richard, assim como as vidas de seus filhos, Jessica e Joey. Conhecemos cada um desses personagens de forma minuciosa e muito bem contada.

A narrativa é um pouco densa, levei uma semana pra ler as 605 páginas, porque muitas vezes parava para me afastar um pouco da história e assimilar as informações trazidas pelo Autor.

Em resumo, é um romance contemporâneo que conta a história dos personagens, de suas famílias e de seus relacionamentos, traça um perfil psicológico de cada um (há capítulos, por exemplo, que são narrados por Patty e outros são narrados em terceira pessoa trazendo um panorama de cada um dos envolvidos na trama).

Quase nunca isso me acontece, mas esse livro me deixou com muitas saudades dos personagens, seres humanos comuns, vivendo na sociedade atual, com todas as problemáticas, seja da juventude, seja da passagem para a fase adulta, muito bem demonstradas pelo Autor. Não tem como não se identificar com alguns dos problemas enfrentados por eles, as dúvidas, as frustrações, as emoções vividas, a tentativa de acertar, mas sem se saber se o acerto apontado pela sociedade é aquilo que realmente nos move internamente, nos basta como seres complexos que somos.

Além disso, Franzen faz uma crítica social muito forte. Traz algumas questões ambientais muito importantes (Walter é um personagem muito idealista com relação ao meio ambiente e o crescimento populacional), traz questões ligadas à aceitação social do indivíduo, ao consumismo desenfreado na sociedade capitalista, à luta pela sobrevivência na conjuntura social atual, às crises familiares pela concorrência externa de uma sociedade competitiva que influencia no interior das famílias.  Há, também, questões políticas, como algumas motivações escusas para a invasão do Iraque e a crise do governo americano após o fatídico onze de setembro.

Há também o amor. A tentativa do Autor de manifestar a sua visão do amor e de como ele é construído por anos, às vezes sem percebermos. A história de amor dos personagens principais é bem comovente. O amor em suas diversas facetas: pela família, pelos amigos, pelos companheiros… O que realmente esperamos do amor? Será que necessariamente o amor é aquilo que nos completa ou aquilo que nos torna mais livres?

E, afinal, o que realmente é ser livre na sociedade contemporânea? Somos livres para pensar, para adquirir bens, para amar quem quisermos? Até que ponto esse direito altamente buscado pelo liberalismo, de primeira geração, foi conquistado? Afinal, o que é a liberdade?

Talvez, nas entrelinhas, Jonathan Franzen, indique os caminhos do que para ele é ser livre. E, acima de tudo, nos traz de forma graciosa histórias de personagens vivos, reais, aquele que mora ali do lado, aquele que está aqui dentro, buscando a felicidade almejada, tão distante e tão perto.

Alguns trechos fantásticos do livro:

“Ainda assim, a sensação de injustiça se transformou num desconforto físico. Até mesmo mais real, de certa forma, que seu corpo dolorido, malcheiroso e suarento. A injustiça tinha uma forma, um peso, uma temperatura e uma textura, e um gosto medonho.” (p. 55)

“De onde vinha a pena de si mesma? E daquele tamanho descomunal? Segundo praticamente qualquer padrão, ela tinha uma vida muito boa. Todo dia, tinha o dia inteiro para encontrar algum modo decente e satisfatório de viver, mas ainda assim tudo que parecia conseguir com todas as suas escolhas e toda s sua liberdade era mais sofrimento. A autobiógrafa se vê quase forçada à conclusão de que tinha pena de si mesma por ser tão livre.” (p. 198)

“Os valores, quando ele tornou a fazer as contas por algum tempo mais tarde, lhe trouxeram uma estranha satisfação ressentida. Há dias tão ruins na vida que só quando pioram, só quando degeneram numa verdadeira orgia de infelicidade, podemos achar que foram de algum modo resgatados. ”  (p. 372)

Sem dúvidas, Tremor entrou para minha lista de leituras do ano. Graças a Jonathan Franzen e sua narrativa envolvente!

Murros no crânio! Não deixem de ler essa obra.

(Rose)

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